Em maio de 2005, dezoito anos atrás, conversando com Durval Ferreira no meu carro, perguntei-lhe se, diante de tanta mediocridade musical que à época já assolava o nosso país e infectava a juventude brasileira, haveria algum risco de a Bossa Nova definhar ou deixar de existir com o passar do tempo. A resposta dele foi silenciosa e cirúrgica: pegou um CD de Carlinhos Lyra que estava na sua mochila, colocou na faixa “Primavera” e pediu para que eu, sem dar um pio, observasse atentamente a beleza melódica e a riqueza poética daquela canção. Oito minutos e vinte e três segundos depois, quando a música terminou, ele me disse o seguinte: “Pintinho, essa música é minha resposta para sua pergunta. A Bossa Nova é mais que um gênero musical. É na verdade, um estado de espírito. Em qualquer tempo ou lugar, enquanto houver amor no coração das pessoas, ela terá seu espaço assegurado”.
Durval Ferreira tinha razão. Hoje, 11 de maio de 2023, o lixo fonográfico que outrora contaminava as emissoras de rádio e televisão, atualmente está sendo viralizado em diferentes, modernas e potentes plataformas digitais, mas a Bossa Nova continua latejante e pulsante no coração daqueles que a reconhecem como a melhor tradução musical da palavra amor. Tudo isso, graças à genialidade de compositores como Carlinhos Lyra, aniversariante do dia, a quem parabenizo, agradeço e aplaudo, de pé, pelo encantamento atemporal, pela paz interior e pelos sentimentos mais nobres que suas belas canções me despertam. Vida longa pra você, meu irmão! Saravá!